Em momentos de exceção, quando medidas extremas tem que ser tomadas, os grupos
mais vulneráveis da população ficam ainda mais limitados e menos atendidos nas suas
necessidades. As crianças com deficiência e suas famílias estão nesse grupo e são
particularmente afetadas nessa situação. A pandemia que estamos vivendo sem
precedente nesse século agrava a situação de forma exponencial, pois as medidas
restritivas, não têm um prazo para terminar causando maior insegurança quanto ao
tempo que será necessário para que tudo retorne à normalidade.
“Se a manutenção de rotina e serviços é fundamental para que as crianças com
deficiência tenham melhor funcionalidade no seu dia a dia, os ajustes em um
confinamento se tornam tarefas gigantescas para as famílias. Em geral, essas crianças
necessitam de um suporte diário de acompanhamento por equipe multiprofissional com
várias horas de intervenção por dia, além de atividades escolares. Mesmo assim, por
vezes, quando as atividades não são estruturadas existem dificuldades de organizar as
crianças, que respondem com respostas adaptativas limitadas, apresentando com
reações aversivas e agitação”, explica o pediatra de Desenvolvimento e Comportamento
da Sociedade de Pediatria do RS, membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do
Sul, e da Sociedade Brasileira de Pediatria, Ricardo Halpern.
Certamente, nesse momento ampliam-se os estresses do dia a dia, com menos suporte
da família estendida e rede de apoio, além de preocupações financeiras e se reflete na
criança que está em casa sem entender exatamente o que acontece.
Nesse momento para minimizar essa carga nas famílias e nas crianças existe uma
necessidade de criar mecanismos que possam adequar atividades à crianças com
deficiência. Elas já possuem um repertório pequeno de brinquedo interação social, e
muitas vezes sem uma capacidade de comunicação efetiva dificultando as trocas e
explicações. O simples fato de ter a rotina modificada pode gerar desorganização e
causar comportamentos disruptivos já que o aumento de estresse causa elevação dos
hormônios cortisol e adrenalina, levando ao que chamamos de estresse tóxico fazendo
com que o cérebro responda de forma ainda mais limitada à essas situações.
“Em linhas gerais, a manutenção de uma rotina o mais próximo possível do que a
criança teria é fundamental. Os horários das terapias, mesmo que em casa, devem ser
preenchidos com atividades similares (oferecidas pelos terapeutas) para que a criança
possa estabelecer um elo entre o que fazia nas terapias e aquele horário em casa. Da
mesma forma, outras atividades como refeições, horário de dormir e tempo de uso de
tela devem continuar regrados, pois o retorno à rotina habitual após a normalidade,
pode ser difícil se essas atividades sofrerem tantas alteração. Cabe aos profissionais de
saúde, mesmo de forma remota, prover orientações no sentido de oferecer a melhor
estabilidade possível para essas famílias”, acrescenta o médico.
A severidade de cada caso impõe medidas peculiares para cada situação. É importante
lembrar o papel das ferramentas de comunicação virtual para auxiliar as famílias nesse
momento complicado. Distanciamento social não pode se traduzir como distanciamento
emocional e afetivo e uma maneira de minimizar a distância física é utilizar as redes
sociais para trazer para “perto” os contatos que oferecem suporte emocional e técnico
para as famílias.
Fonte: PlayPress |